Apesar disso, Christopher, o filho do cavaleiro, já não sabe mais como é o rosto do pai, que não tira a armadura há muito tempo. Após um ultimato da esposa, Juliet, ele decide remover a proteção, que não sai tão facilmente quanto imaginou-se.
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Após aceitar esse desafio, o cavaleiro aprende que a verdadeira luta é aprender a amar a si mesmo, que quando se tem sentimentos verdadeiros e se permite sentí-los, eles te libertam da armadura. Nesse momento, ele se liberta da primeira parte da sua armadura.
Ao fim dessa primeira etapa, o cavaleiro sente as dores do filho e da esposa, e Merlin o explica que todos são parte um do outro, que para conhecer o outro é preciso conhecer a si mesmo, e mais uma parte de sua armadura fica para trás.
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Uma fábula para quem busca a trilha da verdade.O cavaleiro preso na armadura é um conto cativante que traz muita sabedoria de vida ao melhor estilo de Fernão Capelo Gaivota e O pequeno príncipe. O cavaleiro que protagoniza esta fábula vive em busca do seu verdadeiro eu, mas não encontra as verdades que procura por estar sempre preso em sua armadura pronto para guerrear. A história funciona como uma orientação para adultos e jovens que acabam se distanciando dos amigos e da família, seja por estabelecerem outras prioridades, ou simplesmente por não saberem como demonstrar carinho. O cavaleiro mais corajoso do reino. Um homem sempre pronto para qualquer batalha, disposto a defender sua honra e ajudar quem fosse preciso. Sua armadura, lustrosa e imponente, era a única imagem que todos enxergavam no cavaleiro, até mesmo sua mulher e seu filho.O cavaleiro preso na armadura narra a dificuldade que muitas vezes temos em nos mostrar exatamente como somos, em baixar nossas armas e revelar nosso rosto. O homem desta fábula acaba sem querer se distanciando das pessoas que ama e perdendo sua verdadeira identidade.E quando percebe que não consegue mais se desvencilhar da armadura, parte em busca de seu eu esquecido no tempo, perdido nas guerras e na frieza dos sentimentos. Percorrendo a Trilha da Verdade, ele segue rumo ao autoconhecimento, buscando sua verdadeira face há tempos escondida, e reencontrando o sentimento que havia guardado na armadura por toda a vida.Uma fábula atual, assim é O cavaleiro preso na armadura, que fala diretamente a todos que se sentem presos aos compromissos e responsabilidades do mundo moderno, esquecendo aqueles que amam e deixando de lado seus verdadeiros desejos.
3 Capítulo Um O DILEMA DO CAVALEIRO Há muito tempo e numa terra muito distante, vivia um cavaleiro que pensava ser bondoso, gentil e amoroso. Ele fazia tudo que um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso faz. Lutava contra inimigos que eram malvados, grosseiros e odiosos. Matava dragões e resgatava donzelas formosas em apuros. Nos períodos em que não havia muito o que fazer, ele tinha o terrível hábito de resgatar donzelas, mesmo quando elas não queriam ser resgatadas. Por isso, embora muitas damas lhe fossem gratas, outras tantas estavam furiosas com ele. Isso, no entanto, ele aceitava filosoficamente. Afinal de contas, não se pode agradar a todos. O cavaleiro era conhecido por sua armadura. Esta refletia raios de luz tão claros que, quando o cavaleiro partia para a batalha, os aldeões podiam jurar que tinham visto o sol nascer no norte ou se pôr no leste. E ele estava sempre cavalgando para batalhar, A mera menção de uma cruzada, o cavaleiro avidamente vestia sua armadura brilhante, montava em seu cavalo e partia em qualquer direção. Tão ávido estava, na verdade, que algumas vezes cavalgava em várias direções ao mesmo tempo, o que não é proeza das mais fáceis. Por anos a fio, esse cavaleiro esforçou-se para ser o cavaleiro número um de todo o reino. Sempre havia mais uma batalha a ser vencida, outro dragão para destruir ou uma donzela que precisava ser salva. O cavaleiro tinha uma esposa fiel e um tanto tolerante, chamada Juliet, que escrevia lindas poesias, dizia coisas sábias e tinha predileção por vinhos. Também tinha um filho jovem de cabelo dourado, chamado Christopher. O cavaleiro esperava que, um dia, seu filho viesse a se tornar um corajoso cavaleiro. Página 3 de 62 Robert Fischer
5 Eu amo você de verdade insistiu o cavaleiro, abraçando-a desajeitadamente em sua armadura fria e dura, e quase quebrando as costelas dela. Então tire essa armadura para que eu possa ver quem você realmente é! ela exigiu. Não posso tirá-la. Tenho de estar pronto para montar em meu cavalo e sair em qualquer direção explicou o cavaleiro. Se você não tirar essa armadura, vou pegar o Christopher, montar no meu cavalo e sair de sua vida. Bem, isso foi um verdadeiro golpe para o cavaleiro. Ele não queria que Juliet fosse embora. Ele amava sua esposa, seu filho e seu elegante castelo, mas também amava sua armadura, porque ela revelava a todos quem ele era um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso. Por que Juliet não compreendia que ele era todas essas coisas? O cavaleiro estava confuso. Finalmente, ele chegou a uma conclusão. Não valia a pena continuar usando a armadura e perder Juliet e Christopher. Relutante, o cavaleiro tentou remover o elmo, mas este não se moveu! Ele puxou com mais força. O elmo permaneceu imóvel. Perturbado, tentou levantar a viseira mas, que chateação, ela também estava emperrada. Embora pelejasse com a viseira insistentemente, nada acontecia. O cavaleiro andou de um lado para o outro, muito agitado. Como isso pôde acontecer? Talvez não fosse tanta surpresa encontrar a armadura emperrada, já que ele não a retirava há anos, mas a viseira era diferente. Ele a abria regularmente para comer e beber. Ora, ele a levantara naquela mesma manhã para um desjejum de ovos mexidos e carne de porco. De repente o cavaleiro teve uma idéia. Sem dizer para onde ia, correu à oficina do ferreiro, que ficava no pátio do castelo. Quando lá chegou, o ferreiro estava modelando uma ferradura com as próprias mãos. Seu ferreiro disse o cavaleiro, estou com um problema. Página 5 de 62 Robert Fischer
6 Você é um problema, senhor zombou o ferreiro, com seu tato de sempre. O cavaleiro, que normalmente gostava de fazer troça, olhou-o furiosamente: Não estou com disposição para suas gracinhas agora. Estou preso nesta armadura ele vociferou, enquanto batia com o pé coberto de aço, pisando acidentalmente no dedão do pé do ferreiro. O ferreiro soltou um urro e, esquecendo momentaneamente que o cavaleiro era seu patrão, aplicou-lhe um violento golpe no elmo. O cavaleiro sentiu apenas uma pontada de desconforto. O elmo não saiu do lugar. Tente de novo ordenou o cavaleiro, sem atentar para o fato de que o ferreiro agira movido pela raiva. Com prazer o ferreiro concordou, segurando vingativamente um martelo que estava à mão e desferindo uma vigorosa martelada sobre o elmo do cavaleiro. O golpe não deixou nem marca. O cavaleiro estava aflito. O ferreiro era de longe o homem mais forte do reino. Se ele não conseguia tirá-lo de dentro da armadura, quem conseguiria? Sendo um homem gentil, exceto quando o dedão de seu pé era pisado, o ferreiro percebeu o pânico do cavaleiro e foi solidário: Suas condições são bastante adversas, cavaleiro, mas não desista. Volte amanhã, depois que eu estiver descansado. Você me pegou no final de um dia estafante. O jantar naquela noite foi tumultuado. Juliet ficava cada vez mais aborrecida, enquanto empurrava os pedaços de alimento que amassara através dos orifícios da viseira do cavaleiro. A certa altura da refeição, este lhe contou que o ferreiro tentara fender a armadura, mas sem sucesso. Não acredito em você, seu desmiolado rangente ela exclamou, esmagando contra o elmo o prato de pombo cozido cheio até a metade. O Cavaleiro preso na Armadura Página 6 de 62
7 O cavaleiro nada sentiu. Somente quando o molho começou a pingar diante das aberturas para os olhos na viseira foi que se deu conta de que tinha sido golpeado na cabeça. Ele também, à tarde, mal sentira a martelada do ferreiro. Ao pensar sobre isso, percebeu que a armadura realmente o impedia mesmo de sentir muita coisa, e ele a usava há tanto tempo que tinha esquecido como era a vida sem ela. O cavaleiro estava chateado porque Juliet não acreditava que ele estava tentando retirar a armadura. Ele e o ferreiro haviam tentado, e continuaram empenhados nisso vários dias seguidos sem obter sucesso. A cada dia, o cavaleiro ficava mais desanimado e Juliet mais distante. Finalmente, ele teve de admitir que os esforços do ferreiro eram em vão. O homem mais forte do reino, realmente! Não consegue nem dar conta desta sucata de aço! o cavaleiro gritou frustrado. Quando o cavaleiro voltou a casa, Juliet desentendeu-se com ele: Seu filho não tem mais do que um retrato como pai, e eu estou cansada de falar com uma viseira fechada. Nunca mais vou lhe dar comida pelos buracos dessa coisa nojenta. Esse foi o último naco de carneiro que amassei! Não é culpa minha, se fiquei preso nesta armadura. Eu tinha de usá-la, pois só assim estaria sempre pronto para a luta. De que outro jeito poderia conseguir bons castelos e cavalos para você e Christopher? Você não fez isso por nossa causa argumentou Juliet. Você fez isso para você mesmo. O cavaleiro sentia o coração partido, porque sua mulher parecia não amá-lo mais. Ele também temia que, se não tirasse logo a armadura, Juliet e Christopher fossem embora de verdade. Ele tinha de tirar a armadura, mas não sabia como fazê-lo. Ele descartava uma idéia após a outra, achando que não iriam funcionar. Alguns desses planos eram sem dúvida perigosos. Sabia que qualquer cavaleiro que pensasse em retirar sua armadura derretendo-a com uma tocha, congelando-a pulando no fosso enregelado que circun- Página 7 de 62 Robert Fischer 2ff7e9595c
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